sexta-feira, 1 de junho de 2012

CONTRA A FOME E A MISÉRIA

 

O nosso inesquecível sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, falecido em 1993, é um dos nossos heróis na luta pela cidadania, na liderança de um movimento contra a exclusão, contra a fome. Diz Betinho: “A fome é exclusão. Da terra, do emprego, do salário, da educação, da economia, da vida e da cidadania. Quando uma pessoa chega a não ter o que comer é porque tudo o mais já lhe foi negado. É uma espécie de degredo moderno ou de exílio”.
Quando convocou o nosso povo para a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, Betinho não queria um efêmero entusiasmo solidário, mas que, a partir de gestos pessoais ou comunitários, nos comitês e em todas as iniciativas as pessoas ajudassem a alimentar famintos e percebessem os problemas sociais. 
Betinho alimentou também a nossa consciência.
Texto publicado na Folhinha do Sagrado de 2004


Poder do cidadão
Por Herbet de Souza

A fome é a realidade, o efeito e o sintoma da ausência de cidadania.

Não é por acaso que a palavra cidadania está sendo cada vez mais falada e praticada na sociedade brasileira. Uma boa onda democrática que vem rolando mundo afora chegou ao Brasil há algum tempo e tem nos ajudado a descobrir como dar conta do que acontece na vida pública.

Cidadania é a consciência de direitos democráticos, é a prática de quem está ajudando a construir os valores e as práticas democráticas. No Brasil, cidadania é fundamentalmente a luta contra a exclusão social, contra a miséria, e mobilização concreta pela mudança do cotidiano e das estruturas que beneficiam uns e ignoram milhões de outros. E querer mudar a realidade a partir da ação com os outros, da elaboração de propostas, da crítica, da solidariedade e da indignação com o que ocorre entre nós.

Um cidadão não pode dormir com um sol deste: milhares de crianças trabalhando em condições de escravidão, trabalhadores sobrevivendo com suas famílias num quadro de miséria e de fome, a exploração da mulher, a descriminação do negro, uma elite rica esbanjando indiferença num mundo de festas e desperdícios escandalosos, de banqueiros metendo a mão no dinheiro do depositante, da polícia batendo em preto e pobre.

A fome é a realidade, o efeito e o sintoma da ausência de cidadania. O ponto de partida e de chegada das ações cidadãs. A negação radical da miséria é um postulado de mudança radical de todas as relações e processos que geram a miséria. É passar a limpo a história, a sociedade, o Estado e a economia. Não estamos falando de coisas abstratas, de boas intenções ou desejos humanitários de alguns.

Cidadania é, portanto, a condição da democracia. O poder democrático é aquele que tem gestão, controle, mas não tem domínio nem subordinação, não tem superioridade nem inferioridade. Uma sociedade democrática é uma relação entre cidadãos e cidadãs. É aquela que se constrói da sociedade para o Estado, de baixo para cima, que estimula e se fundamenta na autonomia, independência, diversidade de pontos de vista e sobretudo na ética - conjunto de valores ligados à defesa da vida e ao modo como as pessoas se relacionam, respeitando as diferenças, mas defendendo a igualdade de acesso aos bens coletivos.

O cidadão é o individuo que tem consciência de seus direitos e deveres e participa ativamente de todas as questões da sociedade. Um cidadão com sentido ético forte e consciência de cidadania não abre mão desse poder de participação.


Betinho produziu diversos artigos, entre eles está o texto Pode de cidadão, que apesar de ter sido escrito há mais de uma  década, continua bastante atual.
Este texto está no Cadeno do Aluno, 8ª série / 9º ano, volume 2 e é um execelente material de estudo, pois trata de um tema de interesse social e que infelizmente ainda é realidade para milhares de brasileiros.


Observe abaixo as questões trabalhadas em sala de aula:

1. O texto do sociólogo brasileiro Herbert de Souza, o Betinho, poder ser considerado argumentativo? Por quê?
Porque expõe um problema social (a fome) e faz uma explanação sobre as razões para a existência desse problema, argumentando que ela é resultado da ausência de cidadania.

2. Qual é o tema central desse texto?
As relações entre fome e cidadania.

3. Qual é o ponto de vista defendido pelo autor?
Para o autor, a fome no Brasil é o efeito direto da ausência de cidadania, que por sua vez significa a consciência dos direitos democráticos e é responsável pela construção de valores e práticas democráticas.

4. Selecione alguns argumentos utilizados pelo autos para defender esse ponto de vista.
O autor diz que um cidadão não pode dormir “com milhares de crianças trabalhando em condições de escravidão, trabalhadores sobrevivendo com suas famílias num quadro de miséria e de fome, a exploração da mulher, a discriminação do negro, uma elite rica esbanjando indiferença num mundo de festas e desperdícios escandalosos, de banqueiros metendo a mão no dinheiro do depositante, da polícia batendo em preto e pobre”. No entanto, é possível inferir que, se há falta de cidadania, brasileiros dormem e não lutam para extinguir a miserabilidade de milhões de brasileiros. Nesse sentido, a fome e todos os outros problemas apontados pelo autor só existem porque não existe a cidadania.

5. Você concorda com os argumentos apresentados por Herbert de Souza?
Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes considerem os argumentos apresentados pelo autor. É preciso que os alunos desenvolvam, a partir da leitura de textos como esse, um senso crítico sobre as razões que levam tantos brasileiros viverem na linha da pobreza.

6. O autor do texto faleceu em 1997. Em sua obra, os temas cidadania e combate à pobreza são constantes. Em sua opinião, esses temas ainda são atuais para a realidade brasileira? Justifique sua resposta.
Espera-se que os estudantes digam que sim, uma vez que existem no Brasil milhões de pessoas vivendo na linha da pobreza e da exclusão.



Ação da Cidadania contra a Fome, a
Miséria e pela Vida

"Democracia e miséria são incompatíveis", escreveu em 1993 o sociólogo Herbert de Souza, o "Betinho", a partir do Movimento pela Ética na Política, lançando a Ação da Cidadania como um dos mais criativos, inovadores e importantes movimentos sociais do Brasil.
Entre os seus objetivos encontram-se o fomento da mobilização de todos os segmentos da sociedade brasileira na busca de soluções para as questões da fome e da miséria, visando realizar o sonho de um país sem fome, sem miséria, onde todos tenham direitos de cidadania, onde a justiça seja mais do que uma palavra e que a integração social seja mais fato do que discurso. Desde 1993, a Ação da Cidadania visa estimular a participação cidadã na construção e melhoria das políticas públicas sociais. Para esse fim, é essencial a co-responsabilização da sociedade na luta.
O movimento atua através de comitês locais: cidadãos solidários que se mobilizam para por todo a nação. Todos os estados brasileiros têm comitês regionais da Ação da Cidadania e promovem ações conjuntas integradas pela coordenação nacional, com sede no Rio de Janeiro. Os comitês locais atuam junto às famílias, promovendo ações assistenciais e de mobilização das comunidades na luta pela conquista dos direitos sociais. Formados por voluntários, os comitês promovem, individualmente e por iniciativas próprias, projetos nas mais diversas áreas, como a doação de alimentos, a geração de emprego e renda, educação, creches, esporte e lazer, arte e cultura, saúde, assistência à população de rua e outras.
Dentre essas atividades conjuntas podemos citar a realização da Campanha Natal sem Fome, que entre 1993 e 2005 arrecadou mais e 30 mil toneladas de alimentos, doando-as para mais de 15 milhões de pessoas pobres, para denunciar a falta de políticas públicas efetivas de combate à fome. Desde 2006, a Ação da Cidadania mudou o seu paradigma: tendo o Programa Bolsa Família recursos para as 11,2 milhões de famílias pobres, mas sendo que 24% dos recursos destes são desviados, os comitês passaram a identificar as famílias que tem direito à renda mínima e nada recebem, através do programa "Cidadania em Ação". Em menos de um ano foram capacitados mais de 700 comitês, na Oficina de Agentes Locais de Cidadania, os quais visitaram 15 mil famílias, sendo que destas, 13 mil tem direito. Através da mobilização popular, em articulação com prefeituras municipais, já foram cadastradas mais de 2.500 famílias no estado do Rio de Janeiro, até setembro de 2007.
Todos os estados participam da Campanha e organizam suas atividades, definidas em fórum nacional, em seus estados. Os fóruns de debate da Ação da Cidadania são realizados periodicamente visando a formulação de diretrizes e o planejamento das ações da entidade. Nesses fóruns reúnem-se personalidades da sociedade civil, líderes comunitários, coordenadores da Ação da Cidadania dos estados, representantes de movimentos sociais, ONGs, universidades e do poder público.
Além disso, desde 2006 a campanha "Natal sem Fome dos Sonhos" passou a arrecadar brinquedos e livros: (1º) para denunciar as violações dos direitos sociais de lazer e educação de crianças e adolescentes; e (2º) anunciar o acesso aos livros dentro das comunidades através do programa "Espaço de Leitura", que vai criar mais de 1.000 bibliotecas móveis no estado do Rio de Janeiro e outras 1.000 pelo Brasil. Com a inauguração do Centro Cultural da Ação da Cidadania, no bairro da Saúde (Zona Portuária da cidade do Rio de Janeiro), em maio de 2007, a solidariedade consciente ganhou mais um espaço onde o povo começa a mudar o mundo pela cultura e a cultura continua mudando nossas vidas pela cidadania.
A Ação da Cidadania continua acreditando que "só a participação cidadã é capaz de mudar esse país" (Betinho) e que "a comida alimenta, mas só a educação e a cultura transformam e libertam" (Maurício Andrade), porque se em 1993 existiam 32 milhões de miseráveis e nos unimos para lutar contra a desigualdade, em 2007 existem 32 milhões de analfabetos funcionais e precisamos nos (re)unir para lutar por uma nova igualdade.
Que as sombras de nossos líderes nos permitam enxergar mais longe, pois estamos olhando o mundo sobre os ombros de gigantes. Em 01 de julho de 1994 quando da criação do Plano Real pelo presidente Itamar Franco o movimento liderado pelo sociólogo Betinho recebera um volume de dinheiro doado pelo governo Federal de contas que tinham valores em Cruzeiros Reais inferiores a CR$ 27,50 aonde este montante convertido em Real foi leoninamente doado ao movimento sem autorização dos correntistas.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

2 comentários:

  1. Professor. Li sobre esse assunto no trabalho qual o senhor passou para nós, gostei porque foi um método de ajudar pessoas, que não tinham condições de ter uma vida boa, o Betinho fez um trabalho muito bom, que ajudou a nossa cidadania. Jaqueline 8°C

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  2. Professor. Li sobre esse assunto no trabalho qual o senhor passou para nós, foi uma ação muito digna pois, ajudou muitas pessoas que não tinham condições de ter uma vida boa, e mostrou que ainda há pessoas que se importam com a pobreza e com a melhora do nosso país. Jaqueline 8°C

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